É enorme a quantidade de depoimentos engavetados pela Polícia Civil, muitas vezes sem conhecimento da cúpula da instituição. Alguns deles, caso venham à tona, podem abalar o cenário político do Distrito Federal. Hoje, o Fala Sério DF revela um dos depoimentos que está escondido há seis anos. Na época, caso ele tivesse “vazado” para a imprensa, o escândalo da Caixa de Pandora poderia ter estourado com alguns anos de antecedência. O personagem alvo do depoimento é ex-deputado distrital Junior Brunelli (PSC), protagonista do vídeo da “oração da propina”, que depôs em audiência de instrução no último dia 21 de março.
Brunelli é acusado de mandar matar desafetos |
O depoimento foi prestado por um homem, em fevereiro de 2006, que se disse braço direito do ex-deputado durante um período de dez anos. Quem colheu o depoimento foi o delegado João Kleiber Ésper, envolvido em uma série de tramoias e que responde a vários procedimentos na Corregedoria da Polícia Civil. Kleiber era o então delegado-chefe da 30 DP, em São Sebastião. O denunciante em questão é Júlio Cesar Souza, que cumpriu pena no Complexo Penitenciário da Papuda por homicídio. A gravidade das acusações feitas pelo criminoso contra o deputado choca pela gravidade e pelo fato de nenhum tipo de investigação ter sido feita.
O nosso blog teve acesso a todo o depoimento e o disponibiliza para nossos leitores tirarem suas próprias conclusões. Na primeira parte do documento, Souza afirma que fazia todo o tipo de trabalho sujo ordenado por Brunelli. Entre os crimes feitos a mando do ex-deputado estaria o roubo cometido contra pessoas ricas para angariar fundos para a campanha (isso incluiria o roubo cometido contra o ex vice governador Paulo Octávio em que barras de ouro foram roubadas), convencer viciados a votas no deputado em troca de drogas, matar alguém, incluindo um vereador de Águas Lindas.
Mais grave ainda, o homem também afirmou em termo de declaração que Brunelli teria cometido “queimas de arquivo” contra algumas pessoas e que durante os crimes pessoas amigas do denunciante acabaram morrendo. Esse teria sido o motivo pelo qual Souza abriu mão da lealdade ao ex-deputado.
Brunelli voltou a aparecer na mídia no final do mês passado quando ficou frente a frente com Durval Barbosa, pivô do escândalo do Mensalão do DEM. Aparentando nervosismo, o acusado confirmou ao juiz que recebeu dinheiro das mãos de Durval Barbosa. Segundo ele, em julho de 2003 ele ganhou uma quantia para ajuda de campanha e que o benefício não era esperado. “Foi surpresa de Durval”, disse.
Perguntado pelo Ministério Público se o dinheiro entregue pelo delator da Caixa de Pandora foi contabilizado na campanha, Brunelli disse que não. O réu também não soube esclarecer se houve mais valores recebidos por outras pessoas de sua campanha. “Pelas minhas mãos, não. (Pelas mãos do tesoureiro) aí, eu não sei”.
Com uma cola de papel em mãos para consultar as respostas em juízo, e que, logo em seguida foi desautorizado pelo juiz a usá-la, o ex-distrital se confundiu quanto ao ano de recebimento da suposta propina. Primeiro, o ex-parlamentar afirmou que teria sido em 2003. Depois, mudou para 2006.
Junior Brunelli disse desconhecer a origem do dinheiro de Durval. Ele afirmou que durante os sete anos de mandato, não recebeu mais dinheiro do delator. Questionado se o depoente tinha algo contra o pagador das “ajudas de campanha”, Brunelli disse que não e ressaltou que perdoava o delator. “Eu hoje tenho convicção de que fui chamado por Durval para ser gravado”.
Em resposta à perguntas sobre o vídeo em que aparece Leonardo Prudente e Brunelli fazendo uma oração para agradecer ao ex-delegado, o ex-deputado disse que na época era pré-candidato ao Senado, mas que sofria muita pressão do governo Arruda. A oração era para espantar a “retaliação”. Conforme o depoimento, ele pediu forças divinas porque precisava sair do PFL – atual Democratas (DEM) – para filiar-se ao Partido Social Cristão (PSC), mas tinha medo de perder o mandato.
Nenhum comentário:
Postar um comentário